4.10.04

Vinte e Oito

A mentira do dia foi escolhida. O amor. Clarisse houve os conselhos do espelho, Alice grita "anule-se". Igual perante o mundo, Clarisse é zero. Zero, constante, nulo, nada. Sem peso e significado. Ela quer coçar seu joelho, e coça. Clarisse se pertence. Presa em si mesmo, ela sente-se livre. Eu a entenderia perfeitamente, mas eu não sou livre. Dentro da sua mente um virgem canta. Oferece-lhe os lábios rosados, expõe seu peito nu. Clarisse o mata.

Vinte e Sete

"Vamos Clarisse, ainda há sacrifícios a oferecer!" Não sei ao certo se é o ar, ou a estrela de quatro pontas que desenha o ralo, que a provoca náuseas. Cospe, cospe, e agora tem sede. Ela vai morrer. Já sabe disso, desde que nasceu. Hoje ela tem medo dessa verdade, e não consegue mentir. Tantas mentiras para se acreditar, porque foi logo escolher o nada. Ao menos escolhesse acreditar na felicidade, talvez seria um bom começo. A aranha segue caminhando pelas suas costas, beijando seus poros. Deseja amar esse ser, mas Clarisse é tão frágil quanto ela, e precisa tanto desse carinho, ela se masturba e oferece sua porra à sua amante, a qual bebe e despede-se.

Vinte e Seis

Se fosses Deus, quem matarias? Um bom que sofre, ou um mal que goza? O egoísmo é covarde, luxuoso e impotente. O primeiro tiro seria na boca, para calar tanta estupidez. Clarisse sempre quis ter uma banheira, igual a da sua vó. Só não roubou por não ter onde esconder (o velho problema das coisas grandes). Quando menina adorava ficar horas de molho na frágil banheira, vendo as aranhas caminharem pelo seu corpo branco, ainda sem manchas. Ela é quem? O bom que sofre, ou o mal que goza? Havia árvores se escondendo atrás da janela, gostava das manchas as quais o sol cobria suas pernas. Uma vez a aranha a envolveu na teia e penetrou sua vagina. Nunca soube se isso era o certo, a menina apenas gozava. O sol cobre, mas sabe-se que por debaixo da pele não há luz. Existiam milhares de cascas envolvendo Clarisse. Talvez sua polpa nunca corresse o risco de escurecer, pois ela já é negra.

Vinte e Cinco

Assim aprendo. Clarisse nunca ajudou. Nunca lhe pediram ajuda. Sua opinião nunca contou verdadeiramente. Silêncio da luz. A dor longe, além do cinismo e da arrogância. Há poder contra isso? Há ignorância, talvez ainda a estupidez. Mediocridade. Bom seria estar no colo do nada, de onde tudo surge. Os heróis confortam apenas o pânico alheio. Às vezes são imagens que se formam, Clarisse nota a velocidade quando o tempo está contra ela. Ventocidade. Somente contra o vento ela desliza. À favor, o tempo prolonga. As curvas e o rastro das árvores. Contemplação. Sim, ela está certa, são imagens, e do outro lado. Quantos lados são refletidos? Clarisse é reflexo. Sim, sim, ela é o espelho. O que fazer agora com a liberdade dessa informação?