28.2.05

Trinta e Sete

"Bom dia menina de olhar cansado!". Com a mão longe de seus olhos escala sua coluna. As digitais pintam bigodes felinos nas costelas destacadas no relevo de campos vastos e improdutíveis. Improdutíveis e solitários. Grandes de mar salgado, longes do persistir. As costas desistem facilmente, esquecem da pele-manto que as protege. As unhas sujas, a concentração de inspecionar o que não está. Sim, ela sempre procura pelo que não está, não é. Depois de certa sobre isso relaxa e respira aliviada. Consegue até sentir o cheiro cansado de todos buracos, que espreitam sua queda eterna. Pode até ser que nada esteja nela, mas é impossível provar que nada esteja com ela. Que tormento... Ao menos se furasse os olhos. Clarisse nasceu para ter limites, e ela sempre preferiu não ter nenhum.

Trinta e Seis

Esperou, esperou, até que decidiu por ela mesma se invadir. Juntou dois dedos, e penetrou no seu cu. Sentiu os seios enrijecendo, e apalpou o excremento macio que se alojava quente. Pensou em tudo que compunha o resto, e do quão derme era aquele momento. Ela só queria tocar e ser tocada. O anel tencionava e relaxava, Clarisse, como qualquer ser, é impotente diante ao movimento. Seu corpo reinventava ritmos, tudo soava como uma complexa música de sentimento simples. Ela oscilava entre o sentir e se sentir... dançava licenciosamente. Juro que me excito em presenciar isso, as respostas estão tão claras e Clarisse teme despertá-las do seu sono casto. Já que és impotente para compreender, ela prefere não saber, e contemplar a beleza da respiração de todos segredos guardados.Até quando? Eu não sei, mas sei que não é esse o momento. Pesar o sentir é privar-se dele. É claro que ela morrerá, e tudo perderá o sentido, mas o que importa? Ela é bela, acima da dor e do prazer. Ela se sustenta no espelho, e só cabe a mim quebrá-lo.

Trinta e Cinco

Por um instante, Clarisse pára e nota sua beleza. Permite-se olhar sem censura e curiosidade. Apenas sente seu estar. O chá salgado não serve mais para amenizar a dor. Tudo é, e a composição desse momento magnífico de amor de Clarisse com ela mesma, só cabe à moldura do espelho. Ela se vê, sente quão impotência existe no compreender. Não se compreende nada, o egoísmo só nos provém para moldarmos coisas aos nossos sentidos. Quem é essa menina, mulher, coisa? Nem arrogante, nem fraca, Clarisse é estanque. Abriu os poros, e espera por algo que virá para invadi-la. E ela apenas gozará, sem pesar, sem querer se importar. Clarisse tem medo da solidão, mas agora ela quer estar e saber ser sozinha. A morte já marcou hora, ela quebrou o relógio e seu tempo.