13.12.04

Trinta e Dois

"O melhor que eu puder". Os sons perderam o significado sujo. "Mas o melhor nunca é suficiente". Os superlativos nunca se bastam, inclusive o pior. Apenas quando se está só, se pode ser superlativo. Só, se é o que se quer. Inclusive assassino. Nada mais assusta, Clarisse sente frio, não na pele, mas em alguma parte dentro dela, não sabe se são seus nervos que tremem, ou alguma parte da região do tórax. Seu planeta começa perder a órbita, cai sem desvio, e apenas aguarda o momento em que irá se chocar com algum objeto não identificado (por ela). Longe de querer pensar em adjetivos, Clarisse apenas existe, nada mais. Ela chega no lugar onde sempre quis estar (e sempre esteve), no vazio.

Trinta e Um

Nunca entendeu direito de onde provém a luz, qual sua composição e sua fórmula. Energia. Seus seios começam a aumentar, o corpo se prepara para envenenar um novo ser. Mas pouco importa, o presente não é de fato, lembranças são construções de imagens. Em cada estrela falecida, o mesmo desejo implorado em tanta outras vezes. Na dor sentia-se viva, pois sentia-se profundamente, conhecia cada canto obscurecido. Clarisse foca o olhar para o centro de tudo, e vê apenas um ponto. O movimento transformara-se numa lentidão absurda, quase estática. Ela formou um eixo inclinado, e girou. O sistema que a compunha recriava o tempo. Girando, girando, sentia fora de si, apenas o vento. A dor se tornou unicamente física, ela já conseguia sorrir, e verdadeiramente. Mas toda euforia quando longa demais provoca náuseas. Vomitando monstros, Clarisse se anula ao chão.